O martírio de um erro idiota para uma pessoa que almeja a perfeição
O príncipe, doce e bondoso, do alto de sua boa reputação, mantinha um histórico impecável a implacável corte de falsas virtudes.
Deslizava pelo salão com um sorriso em seu rosto, brilhante, maestro e distante…
“Distante demais” – uma voz falou das profundezas do mar das sombras do jovem nobre.
Ele franziu a testa por um milésimo de segundo e logo sentiu os olhos vorazes das cortesãs hienas que compunham seu conselho real.
Não podia fraquejar ou aquelas mentiras ambulantes correriam suas línguas, destruindo seu palácio de vidro e sua cidade de areia.
O sol descia no horizonte e o mundo se calava. Os portais noturnos foram abertos e as criaturas dos pesadelos loucos dos homens saíram à solta.
O príncipe, do alto de seu trono dourado, havia esquecido que não era divino mas humano…
“Da pureza mais limpa, há a sujeira mais suja.”
O quarto espelhado de vossa alteza estava escuro, iluminado apenas pelo brilho da lua. Não havia ninguém além dele olhando de volta, pelas paredes de espelhos do cômodo que era seu domínio mais íntimo.
“Deixe de besteira, você sabe onde eu estou. Olhe para mim e diga meu nome.”
O pânico fluiu pelo corpo do príncipe. Não sabia de onde vinha a voz e, pior, como havia entrado. A segurança do castelo era altíssima e alguém deslizar para dentro sem ele saber…
“Era uma vez um pequeno herói que não queria a sombra em seu coração
Seu corpo imaculado, intocado por cicatrizes
Suas mãos limpas e delicadas
Sua mente desequilibrada e nada sã,
Buscava uma realidade límpida mas não há luz sem escuridão
Pobre herói, falso herói
Para virar o seu destino
Caiu do cavalo e arrastou-se na lama
Seu martírio vem agora, a voz do monstro o chama”
Levantou-se da cama o príncipe e tapou os ouvidos com as mãos na tentativa de parar aquela poesia cruel. Seus ouvidos sangravam, seu corpo estremecia. Quem era este que lhe infligia tamanha dor?
“Pare de ignorar meu chamado, que se transforma em rugido. Aqueles que nos leem já sabem qual criatura que canta a discórdia em seus salões. Grite meu nome, realeza, e destrua a cúpula de porcelana de seu domínio mortal.”
O príncipe não aguentava mais, era muito esforço para manter a pose com tamanha dor. Os nobres inundaram seu quarto e sua visão ficou embaçada com o julgamento dos olhares.
Do ápice de sua dor, ele entendeu. Para salvar seu reinado da hipocrisia sem fim, teria ele mesmo que descer do pedestal que se colocara. Como poderia ser tão imbecil a não perceber quem lhe falava?
Deu nome ao seu demônio e, pela primeira vez, o príncipe gritou.